sábado, 11 de novembro de 2017

APRENDIZ DE ET

Certa vez, andando a esmo na estrada, e procurando uma sombra para descansar do sol forte do meio dia, encontrei um ancião e um jovem sentados embaixo de uma árvore frondosa, o céu estava todo azul, e ao me aproximar, ouvi o jovem perguntar, 
- Mestre, eu trabalho de sol a sol, mas aproveito as minhas horas de descanso para escrever, e vou guardando folha por folha tal qual o senhor me alertou, agora me ensine o que devo fazer para editar um livro, e que o mesmo, um dia, seja aceito pelo público. O mestre ouvindo aquilo balançou a cabeça, e disse,

- Aprendiz de ET, você ainda é muito jovem, mas um dia terá que caminhar com as suas próprias pernas, e neste mundo de provas e expiações, o homem deve, acima de tudo, plantar uma árvore, construir uma ponte, ter um filho e por fim, escrever um livro, vai sem medo, meu filho, guarda na mente essas quatro coisas e faz exatamente como eu lhe ensinei, com humildade, amando e respeitando o próximo, tudo conforme o tempo determinar, e daqui a um ano retorne para este mesmo lugar, nesta mesma hora para me contar sua aventura bem como o resultado dela. Muito contente o aprendiz agradeceu e foi embora, eu ainda continuei ali por um bom tempo, anotei os ensinamentos do mestre no meu bloquinho enquanto ouvia a valsa da correnteza do rio, até ver o ancião desaparecer por entre as árvores. Após aquele dia, para não esquecer ficava olhando a data na caderneta, exatamente um ano depois retornei para aquele local e já encontrei sentado no mesmo lugar o ancião com sua barba comprida, e com o cajado tentava desenhar alguma coisa na areia fofa, me sentei ao lado dele e permaneci em silêncio para não atrapalhar a sua concentração, de repente ouvi passos na estrada, era o jovem aprendiz que se aproximava com um largo sorriso no rosto, pois de longe avistara o seu mestre que não deixou o jovem respirar e perguntou, então, meu rapaz, o que você tem a me dizer, fez tudo direitinho como eu lhe ensinei?

- Fiz sim, Mestre, respondeu o jovem, sem perder o sorriso.

- E qual foi o resultado? 

- Mestre, disse o jovem, há exatamente um ano atrás, quando me despedi do senhor e saí deste mesmo local passei numa casa de plantas, comprei uma pequena árvore, coloquei na carroça, depois entrei numa casa de construção, comprei pá, enxada, carro de mão, pedras, tijolos, ferros, cimento e areia, paguei e pedi que o vendedor mandasse entregar no meu endereço, e ao chegar á minha casa, cavei um buraco e plantei a árvore, perto dali tem um riacho com dois metros de largura, e as pessoas não conseguiam atravessar para chegar ao outro lado, de posse do material de construção, eu construí uma pequena ponte e agora ninguém reclama, qualquer pessoa pode ir e vir sem problema, e dentro do meu coração, vi que já estava na hora de contrair matrimônio, e como eu gostava de uma moça, pedi-a em casamento, hoje temos um filho, e por fim, peguei os meus escritos, juntei folha por folha, perfurei, passei um arame e fiz um livro que se encontra comigo e trouxe o mesmo para lhe mostrar, e lhe agradecer porque eu consegui realizar as quatro etapas que outrora o senhor me ensinou. O mestre ouviu tudo atentamente sem esboçar nenhuma reação, e após o relato do jovem aprendiz, ele levantou a cabeça e disse,
- Rapaz, você fez quase tudo errado daquilo que eu lhe ensinei no passado, realmente eu mandei você plantar uma árvore, mas eu estava me referindo á árvore da sabedoria, ou seja, os seus escritos precisavam ser plantados, pois cada folha escrita, você tinha a obrigação de espalhar, mostrar ao mundo, dá-se a conhecer para poder se tornar um escritor, e quanto á árvore, matéria, plantada pela sua pessoa, é viável, no entanto entenda que ela é cortada constantemente pelo ser chamado (des) humano, deixando a floresta devastada; em relação á construção da ponte também está errada, porque eu lhe ensinei a construir uma ponte, mas era a ponte das amizades construtivas, esta sim é a verdadeira ligação que fazemos diariamente com os amigos do universo, ninguém anda sozinho, e todos nós precisamos uns dos outros para nos ajudar, e a outra que você construiu de cimento, a qualquer momento ela pode ser destruída pelo homem e pela corrosão provocada pela natureza; quanto a ter um filho, tudo bem, mais tarde ele será o seu herdeiro, lembrando que o filho cresce, cria suas próprias asas e quando você se der conta, ele dá seus voos rasantes nos deixando sozinhos como antes; e por último, após cumprir à risca as tarefas anteriores, eu lhe ensinei a editar um livro, publicar, lançar no mercado e espalhar o mesmo nos quatro cantos do mundo, porque esse é aquela semente plantada que lhe dará frutos bons ou ruins, vai depender do caminho que você mesmo escolher, e digo mais o livro é eterno e servirá para as futuras gerações, uma vez que o poeta ou o escritor não morre, após a sua passagem, ele continuará vivo na memória de quem os lê, agora me diga, será que finalmente você entendeu os meus ensinamentos? Retorne e vá fazer as coisas direito, aprenda porque o homem sem conhecimento, ele é cego sem o ser, e não adianta ficar com essa cara triste, saiba que o caminho é árduo, nele existem enormes obstáculos, mas se você souber driblar cada um deles, sairá vencedor, e se de repente tropeçar, cair e se machucar, não tem problema, tudo isso faz parte do seu aprendizado, tenha a dignidade de se levantar, erguer a cabeça e continuar sua jornada sem olhar para trás. A emoção daquelas palavras pronunciadas por um homem que vive e conhece a vida de perto, tomaram conta de todo o meu ser, e acho que nem preciso falar mais nada.

Acadêmica Maria José da Conceição (Mj), em 11/11/2017.
Cadeira 24
Patrono: Luíz Vaz de Camões.

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