segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

LAGRIMAS DE TOURO

Se quer ser tratado de igual por igual, trate bem um animal, pois ele tem sentimento!
Do lado do meu sertão
Pras bandas das Alagoas
Passei com o gado leiteiro
Pra fazenda do patrão
Na frente da vaquejada.
O dia tava bonito
Com o céu muito azulado
E um magote de gente
Tudinho atrepado
Na maior animação
Mas vi Dom Quixote
Um touro muito arrojado
Criado na mamadeira
Por trás da cerca farpada
Gritando pra mim do nada.
Virei o rosto ligeiro
Pra comprovar a latumia
Era o valente brejeiro
Chamando a vaca malhada
Pra fazer lamentação
Mas vi na cara do bicho
Cair dos olhos uma lágrima
Apeei do meu cavalo
Retirei o chapéu de couro
E me assentei pra ouvir
Aí chorei quando ele disse
Que seus pequeninos irmãos
Tombaram feito besouro
Por causa da selvageria
Praticada pelo homem
Vazio de coração.
Na hora fiquei aperreado
E a toa sem saber o que dizer
E nem como ajudar
Porém sou cabra da peste
Nasci no grande Nordeste
Guerreiro por natureza
Também um pouco azuado
Isso não é brincadeira que se faça
E pela luz que me alumia
Quebrei a tala do cercado
Pro coitadinho fugir
Corri por outro lado
Juntei gado com gado
E caí na estrada crua
Onde só tinha poeira
E até hoje espero
Que venha alguém reclamar
Do meu ato praticado
Porque do jeito que sou
Ninguém irá me encontrar
E ainda conto com a proteção
Do padre Cícero Romão
Ao Norte do Juazeiro.
Escritora Mj, em 06/02/2017

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