sexta-feira, 23 de abril de 2021

O RELÓGIO E A BORBOLETA

Ao pousar na janela, sentiu o perfume das flores, viu alegremente aquela transformação num despertar caliente de arrepiar, a encantar toda gente fascinada com o romper da aurora antes do aparecimento dos raios solares, cores lindas são apresentadas no encontro matinal do sol com a terra, revelando o quão bela é a natureza.
Os pássaros acordam saltitantes na revoada do amanhecer, de par em par, ou individualmente, ensaiam melodiosos cânticos em agradecimento por mais um dia de vida, porém ela fazia enorme esforço para tentar engolir os sarrafos da decepção, uma das asas estava se deteriorando lentamente. Assim passou o dia guardando algo que lhe fazia mal, não havendo outro lugar para passar a noite, preferiu entrar e esperar por algo impossível de acontecer.
Recostada no velho sofá arrumado no cantinho da sala, fitando o relógio e seu constante tic-tac, aquele movimento fez com que fechasse os olhos a refletir na madrugada e encontrando-se sozinha, sem ninguém para ouvir o que tinha a dizer, restava apenas ela e o soluço maltratando o cansado peito porque caiu no esquecimento do casulo que tanto admirava.
Sabedora que outra borboleta mais experiente atravessou aquele caminho torto, e vendo as mudanças acontecerem, sentia vontade de gritar para alguém que o tempo não perdoa, ele voa, e que não se sentia culpada de mandar no próprio sentimento, chegando à conclusão de que o jogo do tempero acabou e tudo não passara de uma doce ilusão misturada na fantasia do sonho da pouca idade, porém jamais esqueceria os bons momentos vividos sem trapaça.
Fundamentada através do pensamento, reconhecendo que perdeu, e sem mágoa no coração, a borboleta solitária deixa calar para sempre a cantoria do violão desafinado guardando-o na sacola, muito embora solitário, ainda chora seu pranto de dor, um triste pranto com saudade sem fim do amor que criou asas e voou do jardim...

Mj, em 22/04/2021.

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