domingo, 17 de março de 2019

O REI FORMIGUITTO

Ótimo domingo e uma semana cheia de bons fluidos!

Sabe aqueles dias que nos encontramos um pouco chateados de quase tudo um pouco? Pois bem, acordei com uma sensação estranha e não quis permanecer entre quatro paredes, resolvi sair para observar principalmente a natureza, no céu havia uma lua gigante provocando a aurora boreal cheia de cores iluminando o grosso gelo da terra, mais adiante, uma família de ursos que estavam famintos há muitos meses, mas eles continuavam fieis a esperar o retorno de um amigo querido, um deles observou o voo rasante de uma garça que pousou linda e garbosa, ela estava testando as suas pequenas asas, daí meu pensamento fez uma retrospectiva e bem que eu queria retornar ao passado ao menos num momento para rever aos que lá deixei, e declarar os meus sentimentos, porque as mudanças fazem parte da vida de qualquer espécie.
Ah, pensamentos, parece que você adivinhou porque neste exato momento eu me lembrei de um episódio ocorrido, uma mãe saudosa e chorosa em forma de desabafos um dia me procurou e fez-me ler as pequenas letras arredondadas, “...Filho, costumam dizer por aí que relembrar o passado é viver duas vezes e sofrer sei lá quantas. Estava vendo o álbum de fotos, repassando página por página desde seu nascimento, até os dias atuais, e quantas alegrias você trouxe para mim e para o seu pai! Lembrei também que quando nasceu eu vivia com você nos hospitais, sofrendo e sem lhe deixar um só segundo, jamais, pois entendo que mãe é mãe e muito mais do que isso. Os anos foram passando, aí você cresceu, lhes ensinamos tudo para que fosse um homem decente, não lhes faltou nada, pensávamos mais em você do que na gente. Foi para escola, aprendeu a ler, escrever, contar, e sempre ao seu lado continuei, nas horas vagas brincávamos na rua com bola, de esconde-esconde, aprendi a jogar pião, bola de gude, pipa, amarrava cordão nos carrinhos, eu puxava um e você outro, brincamos até de boto, eu na frente a correr, e você correndo atrás. Ah, meu filho, bons tempos aqueles que não voltam mais! Então relembrei o tempo da minha infância, era de ignorância, mas disso não me arrependo, tinha tanta brincadeira que já nem lembro e hoje, o que resta é saudade. Estudei em colégio público porque não podia pagar mensalidades, e você em colégio particular, sacrifiquei-me o quanto pude para você não deixar de estudar, lhe ensinei o caminho correto a seguir, mas se não aprendeu, ou não quis aprender, isso não é problema meu, é só seu. Lembre-se que passei por grandes dificuldades, e até a faculdade tranquei, muito tempo depois consegui terminar. Outra coisa, meu filho, suas asas cresceram, lhe ensinei a voar, dei exemplos da boa vivência e convivência, para não ver o barco afundar, e hoje vivo na decadência mas sei que a minha consciência está tranquila, no entanto infelizmente só recebo cobranças das coisas que nunca fiz, mas se fiz ou deixei de fazer, foi para você aprender, consertei os seus erros, lhe coloquei na linha, para poder respeitar os cabelos brancos da sua mãe que está velhinha. A bênção, minha mãe! Ora, isso eu não ouço, e nem vejo mais, porque esse foi seu desejo, e no meu aniversário, ou data em que se comemora o dia das mães, você nunca me telefonou, quanto mais um abraço do lugar que você mora, aliás eu não sei o seu endereço, e para cá, imagina, também não viajou. Lembre-se de que sempre lhe falei, que você só saberá o valor de uma mãe quando eu aqui na terra não existir mais, e pelo que eu saiba você tem filhos, pense nisso, e quem sabe, um dia eu possa esquecer de tudo isso que passei lá atrás. Obrigada, meu filho...”
Na época que a referida mãe mostrou-me seus desabafos, eu chorei como um bezerro desmamado e hoje tornei a chorar, não venham me dizer que o homem não chora, porque isso é tabu, o homem verdadeiro que cultiva sentimentos benignos guardados no peito, chora sim, e por causa disso algumas pessoas me chamam de louco, porém afirmo que não sou louco, por outro lado um pouco de loucura ou bom senso não fará mal para ninguém, eu sou, na minha simplicidade um eterno apaixonado pela vida desprovido de alegorias, porque quero envelhecer com lucidez e sabedoria enchendo principalmente o meu coração de alegria venturosa, apesar da minha alma invernada, assim continuei a minha peregrinação até sentir que fui picado por algum inseto, levantei a perna da calça e constatei uma formiga agarrada a minha carne, olhei ao redor e vi realmente que tinha adentrado em terras desconhecidas, retirei a formiga da minha perna e procurei me afastar um pouco do local, havia muitas formigas pretas indo e vindo com alimentos e entravam num grande castelo de areia amarelada, ao lado passava um córrego de água transparente, tenho certeza de que é ali que elas matam a sua sede, pensei, de repente avistei uma enorme formiga de pé na porta do castelo falando alto, chamando as companheiras para uma reunião de emergência, e todas em sinal de obediência escutavam as palavras do grandalhão,
- Venham cá todas vocês, suas molengas, bradava a furiosa formiga, o tempo urge, visitei o armazém, contei os dias de trabalho e vi que o estoque de comida está fraco, o que anda acontecendo por aqui? 
- Não anda acontecendo nada, senhor, estamos trabalhando como foi determinado, porém queremos um pouco de descanso, respondeu a valente formiga preta que se encontra lá atrás das outras, coitada, ele tremia de medo, mesmo assim não queria ser inferior.
- Quem ousa me desafiar com tanta prepotência? Perguntou o chefe procurando de onde saíra àquela minúscula voz, sem obter resposta, então ele virou-se para todos os presentes, eu sou o Rei Formiguitto, tenho autonomia de mandar em todo condado, essas terras pertenceram aos meus pais que herdaram dos meus avós, que antecederam os meus tataravós, os quais receberam dos meus escancha vós, e assim por diante, portanto quem manda aqui, sou eu! Caramba, ele fora abruptamente interrompido por causa do barulho feito por um exército de formiga, elas estavam lutando com a famigerada “dona Cascuda” uma enorme barata lutava com todas as suas forças para se livrar das formigas pretas, mas as suas tentativas não deram certo, cercaram-na de um jeito que ela ficou sem força, então o Rei Formiguitto ordenou que a amarrassem e deixassem a mesma trancafiada no calabouço, assim foi feito. Pouco depois o rei ordenou um dia de descanso para repor as forças do seu exército formado pelas abomináveis formigas pretas.
Da minha parte eu queria ter uma audiência com o referido rei para entrevistá-lo, entretanto fui comunicado de que naquele momento seria impossível uma vez que o Rei Formiguitto fora chamado às pressas para resolver um problema grave, eram "as baboseiras praticadas pelos três patetas, filhos da pátria" que tentavam a todo custo derrubar o seu reinado, e segundo as informações colhidas por uma formiga fofoqueira, os tais patetas estavam fazendo leis e reformas para destruírem o país sem o conhecimento do povo, mas segundo a dona formiga após o regresso do rei eu seria comunicado e então finalmente teria a entrevista almejada.

Mj, em 01/12/2016.

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